Comentário individual
Com o conhecimento que tenho agora das potencialidades
do Araword e a exploração deste recurso, fiquei agradavelmente surpreendida ao
saber que até eu posso construir histórias adaptadas. Esta possibilidade, mesmo
assim, deve ser analisada com prudência, para que os seus resultados sejam os
melhores. Por muito à-vontade que nos sintamos face ao Araword, há que ter em conta as capacidades de comunicação da
criança, pois implementar o Araword
enquanto comunicação alternativa é diferente de implementá-lo como comunicação
aumentativa. Há também que ter o cuidado de selecionar antecipadamente os
símbolos, para que se utilize apenas um símbolo para cada conceito, a menos que
se trate de uma criança com um bom potencial cognitivo. É também essencial que
se selecionem os símbolos mais adequados ao modelo que a criança possui e à sua
capacidade intelectual. Potencia-se assim um conjunto de aprendizagens a partir
de histórias adaptadas. Imagino esta estratégia a ser utilizada, por exemplo,
na interpretação de histórias contadas oralmente, na qual a criança constrói as
suas respostas recorrendo a estes símbolos. Imagino também o Araword a ser utilizado em momentos de
escrita de pequenas frases por parte de crianças que eventualmente apresentem
uma capacidade cognitiva superior. Num estádio mais avançado, a criança pode
até redigir as suas próprias histórias, com base em experiências de leitura
anteriores e nas próprias experiências de vida.
Falando do Araword
e das suas potencialidades educativas e comunicativas, reconheço igualmente as
vantagens do Araboard, concebido a
pensar numa grande variedade de públicos. A possibilidade de construir pranchas
(ou tabuleiros) de comunicação personalizados e adequados não só às
características como também às necessidades de cada aluno torna possível aquilo
que muitas das vezes nos parece difícil de alcançar – a autonomia. Se, por um
lado, o uso do Araboard permite à
criança responder a questões que lhe são colocadas, por outro, com os quadros
de comunicação, podem ser-lhe dadas as ferramentas necessárias para efetuar
pedidos simples ou, eventualmente, iniciar e manter um tópico de conversa,
ainda que com limitações, em parte devido à quantidade de símbolos disponíveis
por prancha. A estas vantagens acresce ainda a possibilidade destes quadros
serem construídos em suporte papel, o que colmata as dificuldades de ordem
financeira para quem não dispõe de equipamentos tecnológicos como um tablet.
O Araboard
está acessível a qualquer um de nós e, perante a falta de recursos
tecnológicos, podemos construir tabelas de comunicação utilizando materiais de
uso comum como papel, cartão e cola, depois de terem sido impressos os símbolos
adequados. A criança não é, então, privada do recurso ao Araboard.
O Araboard Constructor está então acessível a todos
os agentes implicados no processo educativo da criança, ao mesmo tempo que o Araboard Player deve implica a sua utilização em suportes tecnológicos, ou
em versão papel, como foi referido anteriormente.
Congratulo, desde já, quem concebeu este recurso e o
tornou acessível sem custos. Na minha opinião, é aqui que assenta o conceito
INCLUSÃO, pois o Araboard pode
abranger todas as faixas etárias, todas as condições socioeconómicas e diferentes
perfis de funcionalidade. Para mim, deve ser dado o mérito a um recurso que
pode, efetivamente, ser utilizado por toda a gente e mudar a vida que quem a
ele recorre.
Apesar destas vantagens, e tendo em conta todas as
possibilidades que o Araboard nos
oferece, a utilização deste recurso implica uma reflexão prévia sobre as
seguintes questões: a) Que capacidades de comunicação tem esta criança:
recetiva ou expressiva?; b) Que objetivos pretendemos desenvolver com o Araboard?; c) Em que contextos utilizar:
casa, escola, contextos sociais…?
Respondidas estas questões, recomendo que sejam
selecionados os símbolos mais adequados ao perfil de funcionalidade da criança.
Sugiro inclusivamente que, do ponto de vista da continuidade e da
complementaridade, tanto no Araword
como no Araboard seja utilizado
apenas um e o mesmo símbolo para cada conceito, ou seja, o símbolo que usamos
numa aplicação seria o mesmo que aplicaríamos na outra. Evitamos assim a
sobrecarga para a criança, ao mesmo tempo que se estimula a memória, sobretudo
a memória icónica de cada um dos símbolos.
Selecionados os símbolos adequados – tanto no Araboard Constructor como no Player
-, está aberto o caminho para a estimulação da autonomia, da comunicação, da
interação e da funcionalidade.
Quando a criança fica
familiarizada com o Araword,
abre-se-lhe todo o mundo da leitura e da escrita, valorizando-se a vertente
académica. Quando familiarizada com o Araboard
Player, seja em formato tecnológico
ou construído em papel, a criança adquire e desenvolve competências essenciais
como a comunicação recetiva e expressiva, a autonomia pessoal, social e escolar
ou a relação interpessoal.
Sabemos que, para uma
criança não-verbal, o uso do Araboard
pode fazer a diferença. Deste modo, deixa de ser necessário “adivinhar” aquilo
que a criança pretende transmitir e as respostas dadas deixam de ser apenas
através do Sim ou Não, muitas vezes associados a um gesto específico da cabeça,
da mão ou do pé. Abre-se toda uma possibilidade de comunicação e relação
interpessoal. A criança passa de sujeito passivo a sujeito ativo, capaz de se
expressar – quer utilize estes recursos como comunicação aumentativa quer
alternativa. O importante neste caso é que, se forem fornecidas pranchas com
alguma variedade de vocabulário, a criança desenvolve o seu potencial –
comunicativo, cognitivo e social. Há apenas que dar as ferramentas necessárias.
Estes três recursos têm
ainda a possibilidade de serem usados simultaneamente em casa e na escola, já
que contrariam a crença de que o uso destas tecnologias é exclusiva das escolas
e de técnicos especializados. Se for tido em conta que a cada conceito deve
sempre o mesmo símbolo, tanto a família como a escola podem e devem colaborar
na implementação destas ferramentas. Assim será possível otimizar o seu
potencial.
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